sábado, 13 de junho de 2009

O ANFÍBIO, história da Avómi

Crocodilo, Romila, Rio de Janeiro

Era uma vez um Crocodilo muito senhor do seu nariz que vivia na margem dum rio bem fundo, em terras de África. Certo dia resolveu dar um passeio pela floresta e encontrou uma árvore muito grande, com um tronco grossíssimo e pôs-se a pensar:
- Já vi árvores grandes, mas como esta!... Nem sei se avance até perto dela ou se volte para trás. Talvez seja melhor encher-me de coragem e dirigir-lhe a palavra, porque mal não me vai fazer, que eu sou forte e bem forte. Mas lá que mete respeito, é verdade!
Lá foi até bem perto do Embondeiro que já o tinha visto à distância. A árvore não escondeu a sua admiração e logo que o Crocodilo se aproximou, disse:
- Já tenho visto muitos lagartos, grandes e pequenos, de várias cores, mas como tu nunca vi nenhum!
- Também eu me espanto com a tua aparência, pois nunca vi nenhuma árvore tão grande. Como te chamas?
- Chamo-me Embondeiro e dou uns frutos muito gostosos. Queres provar?

Embondeiro, Manuel Pombinho

- Quero! Mas antes, quero dizer-te que não me chamo Lagarto. É verdade que, antigamente, designavam-me assim, mas isso foi há muitos anos, quando as pessoas ainda não estavam esclarecidas. Chamo-me Crocodilo e sou um anfíbio.
- Anfíbio?!... O que quer isso dizer?
- Eu já imaginava que irias fazer essa pergunta. És muito grande, mas pouco esclarecida. - disse o Crocodilo com ar importante - Anfíbio é um animal que pode viver em terra e na água. Quando me apetece, meto-me no rio, dou grandes mergulhos, brinco na água, mas se me canso, venho para terra, normalmente para estender-me ao sol.
Raramente saio da margem do rio, mas hoje apeteceu-me esticar as pernas e, para chegar aqui, já andei bastante. Bem, agora que já falei muito, dá-me um fruto dos teus.
- Aí vai ele. Desvia-te um pouco, para te não cair em cima, pois é um bocado pesado e pode magoar-te.
- Olha, olha! Mas tu pensas, que eu sou algum animalzinho frágil? A minha pele é mais rija que o teu tronco! Atira lá isso e não te preocupes, que não me magoas.
- Um, dois, três... Aí vai... - disse o Embondeiro a brincar, ao mesmo tempo que atirou o fruto.
O crocodilo apanhou o fruto e, sem o descascar, comeu-o num instante e disse:
-É refrescante, lá isso é, mas se estava com fome, com fome fiquei. O que eu queria, era uma carninha que me desse forças para o regresso.
- Carninha?!... - exclamou a árvore - Não estás bom da cabeça! Só posso dar-te o que tenho, e estás com sorte por teres vindo na altura em que estou carregada de frutos, pois se tivesses vindo há um mês atrás, não havia nem um.
- Não digas que estou com sorte, pois a verdade é precisamente o contrário! Costumo apanhar uns animaizinhos mesmo à beira do rio e, aqui para nós, bem gostosinhos! Aproveito quando vão beber água, dou-lhes uma pancada com a minha cauda, e pronto, estão apanhados. Hoje não vi nem um. Como por aqui não há nada, vou andando antes que anoiteça.
Talvez consiga ainda apanhar algum animal distraído pelo caminho.
- É melhor ires-te embora, é! Já vi que és mauzinho e traiçoeiro. Não quero que, se aparecer algum dos meus amigos, me dês um desgosto. Somos todos muito felizes neste sossego e não quero que perturbes a paz em que vivemos.
O Crocodilo, furioso, levantou a cauda e começou a bater com toda a força no tronco da árvore, mas o Embondeiro não se mexeu, nem se lamentou; apenas o olhou em silêncio e com desprezo.
Sem mais delonga, cabisbaixo, o Crocodilo virou as costas e foi-se embora e não voltou mais a deslocar-se ao local onde habitava o Embondeiro que, quer quisesse quer não, tinha muito mais força que ele.
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