terça-feira, 24 de maio de 2011

APRENDER MATEMÁTICA A SORRIR


Salman Khan: Vamos usar o vídeo para reinventar a educação
Caso não consiga visualizar aqui o vídeo com as legendas em português, poderá vê-lo AQUI


Salman Khan, um jovem analista de fundos de investimento americano, ajudava os primos a resolver os problemas de Matemática, dando-lhes explicações sobre a matéria. Como ele vivia em Boston e os primos em Nova Orleães, a certa altura as explicações passaram a ser dadas através de vídeos que Salman  colocava no You Tube. Os primos adoraram e chegaram a dizer-lhe, para seu grande espanto, que o preferiam nos vídeos do que em pessoa! Bom, ultrapassado o choque, Kahn compreendeu o que os primos queriam dizer: que as suas explicações de Matemática dadas através dos vídeos tinham vantagens sobre as explicações tradicionais, e que assim conseguiam compreender muito melhor a matéria.

Para grande surpresa de Kahn, isto aconteceu não apenas com os primos mas com um crescente número de estudantes, que passou a assistir às suas explicações de Matemática e a sentir grande alegria e entusiasmo pelo facto de finalmente conseguir compreender e resolver problemas que até aí pareciam de grande dificuldade.

A partir destes primeiros vídeos, desenvolveu-se uma verdadeira academia, a Academia Kahn, que conta actualmente com mais de 2.000 vídeos, abrangendo grande parte do curriculum de Matemática (desde as mais simples somas de um algarismo, até aos mais complicados cálculos), e ainda Biologia, Química, Economia,  e muitas outras matérias.

Neste vídeo, Kahn conta, de maneira engraçada e esclarecedora, como conseguiu interessar os alunos na Matemática e como tenciona criar uma sala de aula do tamanho do Mundo.






domingo, 22 de maio de 2011

UM RELÓGIO FIXE, história de Ilona Bastos




Num domingo, ao almoço, sem esperar, o Tiago recebeu do avô um magnífico relógio.

- Repara! - disse-lhe o avô. - O relógio tem luz no mostrador, todas as horas estão marcadas com algarismos, é à prova de água e funciona a pilhas, por isso não precisas de lhe dar corda...

- Fixe! - exclamou o menino, maravilhado. – Muito obrigado, avô. Vou andar sempre com ele.

E assim fez. O menino colocou o relógio no pulso, empoleirou-se ao colo da mãe para que lhe relembrasse a leitura das horas, e a partir desse dia não mais largou o relógio.

Na escola foi um sucesso, naturalmente, pois de todos os relógios presentes - que nos braços das crianças cronometravam mil e uma tropelias - o relógio do Tiago era o mais fantástico, o mais moderno, enfim, o mais fixe... Nunca se atrasava, nem adiantava. E ao menino não dava trabalho algum, pois nem de corda o relógio precisava, sempre enérgico, sempre dinâmico, sempre pontual!

E, também, assim, o Tiago passou a ser o aluno mais pontual da sua sala!
 
Ora acontece que numa noite, encontrando-se o menino a dormir, começou o relógio a sentir-se indisposto: eram os braços doridos - isto é, os ponteiros sem força; era uma forte dor de cabeça - ou seja, o mecanismo a fraquejar; eram umas tonturas tais que o ponteiro dos segundos - aquele mais veloz e mais traquinas, com uma energia ímpar - dava um passo à frente e outro atrás, sem saber se avançar se recuar.

O relógio ainda tentou chamar a atenção do menino, soltando pics e tics e tucs - o que nele não era nada habitual.

Mas o Tiago não acordou, voltou-se para o outro lado e continuou a sonhar.
       
De manhã é que foi a decepção, quando o menino percebeu que o relógio parara. Já  o sol ia alto, inundando de luz toda a casa, e os ponteiros marcavam as três horas da madrugada, como se ainda fosse noite e as estrelas cintilassem no céu.

- O relógio não funciona! O relógio está doente! - gritou o Tiago, aflito.

O pai e a mãe correram para ver o que se passava, e observaram atentamente o mostrador. O pai aproximou o relógio do ouvido, verificou os botões da luz e de acertar os ponteiros, e abanou a cabeça, muito sério.

- É grave? - perguntou o menino, ansioso.

- Está muito fraco. - diagnosticou o pai. - Precisa de alimento.

- Alimento?! - exclamou o menino, aliviado. - Se é só isso, resolve-se já!

E, de um pulo, correu em direcção à cozinha.

Do quarto, os pais ouviram-no espreitar o frigorífico, bater as portas dos armários, abrir e fechar gavetas, mexer em loiças e talheres. Daí a pouco, o Tiago regressava, vitorioso.

- Cá está! Leite com cereais! – anunciou. - O alimento próprio para um relógio fixe!
Os pais caíram na gargalhada e a mãe, sem parar de rir, dirigiu-se à escrivaninha do escritório, trazendo uma peça pequenina e prateada, semelhante a um botão, que entregou ao pai.

- Não estou a perceber a razão de tanta risota... - disse o garoto, meio queixoso, meio divertido.

- É que o alimento do relógio é esta pilha. - esclareceu o pai. – Vou colocá-la aqui e o relógio fica como novo...

- Ou seja, volta a ser um relógio fixe - concluiu o menino.

- Exactamente! - aprovou a mãe. - Mas agora que o relógio já está em forma, precisamos de dar alimento, também, a um miúdo fixe...

- Pilhas! - gritou o Tiago, maroto.
       
- Errado! - corrigiram os pais, risonhos. - Leite com cereais!


domingo, 15 de maio de 2011

“O livro e o Tempo - ameaças e oportunidades” , de Anabela Rosa

Ilustração de Darryl Brown


Um livro é uma janela pela qual nos evadimos”
Julien Green


No dia 23 de Abril, dia de São Jorge, celebra-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, data instituída pela UNESCO, desde 1996, na sequência de uma antiga tradição catalã que assinalava essa data com oferta pelos cavaleiros às suas damas de uma rosa vermelha em troca de um livro. 
 
Essa data, que surge, ainda, associada ao falecimento de Cervantes e Shakespeare, é uma homenagem à literatura e tem o intuito de promover a leitura e alertar para os direitos dos autores das obras literárias. 
 
A História do livro está associada à História do Homem, tendo acompanhado a sua evolução tecnológica, social e cultural, o qual produzido nos mais diversos suportes, ao longo das épocas, tem permitido através da escrita, registar as experiências, ideias e conhecimentos dos povos.

Do seu percurso de milhares de anos, com génese na invenção da escrita, foi só século XV, com Gutenberg que a prensa, já conhecida dos chineses, através do mecanismo de caracteres móveis reutilizáveis e a utilização do papel, tornou possível a produção em série dos livros e a sua popularização. 
 
Porém, o acesso democratizado aos livros tem percorrido um longo caminho e enquanto veículo transmissor de informação e conhecimento, servido os mais diversos propósitos, desde religiosos a políticos, tendo, não raras vezes, sido idolatrado, outras, diabolizado e proibido. 
 
Todavia, foi só em meados do século passado, que os livros passaram a fazer parte do quotidiano das populações, fruto da melhoria das condições económicas, da adopção de medidas de politica educativa e cultural que apostaram na escolarização progressiva e mais prolongada da população, a par do alargamento da rede de bibliotecas públicas e escolares. 
 
Nesta medida, há que reconhecer uma evolução positiva no acesso aos livros com repercussão nos hábitos de leitura. 
 
Todavia, o livro tal como o conhecemos, enquanto objecto transportável, encadernado com folhas de papel, terá de evoluir para outros formatos em virtude das novas tecnologias de informação e comunicação, onde a apetência pela Internet atingiu um impacto considerável. 
 
São exemplos claros dessa evolução, os livros digitais, os áudio livros e os manuais escolares em formatos acessíveis para os alunos com necessidades educativas especiais, à qual não é alheia uma sociedade com um olhar mais atento e consciente sobre a igualdade de direitos e de oportunidades das pessoas com necessidades especiais.
 
O aproveitamento das novas tecnologias como potenciais aliados na divulgação da cultura escrita, em prol da sua acessibilidade, tendo em conta a diversidade de cada individuo, é um desafio actual e futuro a enfrentar por qualquer sociedade desenvolvida e inclusiva, que coloque as pessoas no centro das suas preocupações. 
 
Ler é sonhar pela mão de outrem”, escreveu Fernando Pessoa no Livro do Desassossego e neste contexto, como a homenagem deste dia se dirige, também, aos Autores e seus Direitos, não nos podemos esquecer da necessidade de serem criadas estratégias inteligentes que permitam o equilíbrio entre o respeito dos seus direitos enquanto criadores e que em simultâneo promovam e assegurem o direito de acesso às pessoas com necessidades especiais à informação e ao prazer da leitura. 

 
Anabela Rosa, in Ipso Jure - 54



Uma sugestão de visita: o lindíssimo blogue Poesia infantil i juvenil, onde descobrimos, entre outras coisas maravilhosas, a ilustração para este belo texto.