sábado, 17 de março de 2012

O RESTAURANTE DO JOAQUIM - 2ª Parte, história de Ilona Bastos

 ilustração de Ilona Bastos

Espantados e um pouco desiludidos, os pais do Joaquim mandaram-no para a América, e na NASA foi bem recebido e apreciado o seu trabalho.

Tendo-se tornado necessário reunir uma equipa para descer no planeta Marte, o Joaquim foi nela incluído. Passou por um treino rigoroso e preparou-se até naquelas câmaras que simulam a inexistência de gravidade, onde tudo anda solto pelo ar, dando cambalhotas e reviravoltas: pilotos, esferográficas e papéis!

Pois foi tal o empenho do Joaquim que o escolheram para ser o primeiro homem a pisar Marte. Que grande alegria sentiram os seus pais ao verem o filho, pela televisão, a caminhar no planeta vermelho!

De regresso à Terra, o Joaquim visitou a casa paterna. E o pai, esperançoso, sondou-o:
 - Agora que foste a Marte, o que queres fazer, Joaquim?

O rapaz não hesitou:
- Não desejo mais ser astronauta. Já fui a Marte, e não está prevista a visita a nenhum outro planeta nos próximos anos. Por isso, se continuar na NASA não mais viajarei. Tenho que mudar de vida.

O pai arriscou:
 - Queres, então, tomar conta do restaurante?

O Joaquim sorriu e colocou-lhe a mão sobre o ombro.
- Pai, se não posso ir para o espaço e para as estrelas, como desejava, tenho que conhecer o meu planeta. Quero dar a volta ao mundo.

E os pais lá ajudaram o Joaquim a preparar um barco, pequeno mas sólido, que lhe permitisse navegar os cinco grandes oceanos: o Glacial-Árctico, o Glacial-Antárctico, o Atlântico, o Pacífico e o Índico. A embarcação teria que resistir à fúria dos temporais e às zonas de calmaria em que o vento se recusaria a soprar. O Joaquim iria suportar a solidão, as noites ao leme, sem dormir, o braço de ferro com a imensidão das águas.

Os mantimentos, já se vê, foram fornecidos pelo restaurante. E, assim, completamente equipado, partiu o Joaquim para a viagem à volta do mundo.

Passaram-se os dias, as semanas, os meses, e de quando em quando ouviam-se notícias da odisseia: que o Joaquim aportara numa ilha e contactara os seus habitantes, pertencentes a uma civilização antiga e praticamente desconhecida; que chegara a Nova York e na Grande Maçã fora recebido pelo mayor com enorme pompa e circunstância; que salvara uma tribo de beduínos, junto à costa de África, numa aventura sem igual; que assistira à erupção de um vulcão e ao nascimento de novas ilhas; que, lá para o sul, sobrevivera a um maremoto; que, no oriente, se alimentara de exóticas iguarias, completamente estranhas aos habituais petiscos fornecidos pelo seu pai.

O pai que, evidentemente, ia gerindo e desenvolvendo o restaurante do Joaquim, com enorme zelo e empenho. 

Um ano volvido, regressou o filho pródigo. Que grande entusiasmo para os pais, amigos e conhecidos! Conhecidos que cada vez eram mais, dada a ampla cobertura que os jornais, a televisão e a rádio davam às proezas do Joaquim.

Que expectativa para o pai, que desse filho já tudo esperava!
- Então, meu rapaz, o que tencionas fazer? - perguntou-lhe, quando os festejos terminaram.

O Joaquim manteve o ar sério e impassível de sempre.
- Pai, vou fazer uma expedição ao Himalaia. Quero subir ao Evereste, a montanha mais alta do mundo.


CONTINUA

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